segunda-feira, 21 de novembro de 2011

O discurso do rei

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Acossado pelo acirramento do horário eleitoral nas campanhas do plebiscito, o governador Simão Jatene publicou o seu édito nos dois maiores jornais do Pará.
O presente horário eleitoral pouco tange decisões: a audiência já tem opinião formada e se recusa a ouvir algo que não consubstancie a sua respectiva posição.
Neste raciocínio, a intenção periférica do texto do governador (abaçanar animosidades) não se efetiva e apenas repete o horário eleitoral: serve de intendência aos que são contra a divisão e acirra os ânimos de quem a defende.
O adjetivo do texto aponta apaziguamento, mas, o substantivo lavrado sobrepõe-se ao adjetivo: o governador Simão Jatene é contra a divisão do Pará e se ressente daqueles que por ela se batem.
Todos já sabiam disto: o povo, que alguns julgam despreparado para tomar decisões, tem uma admirável inteligência emocional, através da qual administra tergiversações. O édito dominical apenas tornou oficial o que era uma certeza coloquial.
Neste ponto abro um parêntese para uma observação:
Não se deve esperar que o povo vote em presidente, governador, deputados, senadores, ou plebiscitos, com base em detalhados e extenuantes relatórios científicos: este argumento apenas perora satisfações acadêmicas. A manifestação da vontade popular tem como único fundamento a inteligência emocional e é exatamente isto que os bons marqueteiros manipulam.
Neste contexto, forço-me a observar que a campanha do “sim” perde a mão quando tenta manipular esta inteligência estampando as dificuldades das regiões Sul e Oeste, quando estas dificuldades são, igualmente, localizadas nas periferias de Belém do Pará.
Fecho o parêntese.
O governador adjetiva a sua posição pelo “não” e fundamenta tal assertiva nas dúvidas que pairam sobre o processo, trepidando pelos mesmos argumentos dos quais laçam mão os que a ele se alinham. Neste ponto, toda a construção do texto não acode substâncias e nem traz novidades, mas, suscita o cuidado de não ferir suscetibilidades.
Este cuidado, todavia, é arredado quando o governador estoca, “alguns políticos” que são a favor da divisão. Neste intervalo, o “alguns”, passa a significar “todos” os que não têm as mesmas dúvidas que ele, ou, fatorando a equação, os que não têm as certezas dele.
Ao cabo, não compartilho do pensamento lateral, que passa a ser nuclear na fala do trono, de que o plebiscito possa ter o condão de potencializar ódios e preconceitos entre os habitantes das diversas regiões do Pará: as diferenças há muito existem, mas, são sempre mitigadas pela providencial tolerância do brasileiro.
O que ocorre é que as diferenças se tornam protuberantes nas campanhas, quando os egos dos respectivos candidatos e marqueteiros deitam etanol no fogo brando, mas, passada a batalha dos egos, todos voltam as suas respectivas significâncias, ou insignificâncias e a brasa retorna ao seu estado de combustão controlada.